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sábado, 2 de novembro de 2013

REPENSAR O CURSO

*Por Ilana Benne Falcão Maia


Visibilidade. Esta é a palavra que falta para o curso de Letras, no geral, não só em uma universidade específica, mas na maioria, se não em todas. O curso em sua amplitude é escasso de apoio, o que é uma triste contradição pois o mesmo deve, ou pelo menos deveria formar professores qualificados para o ensino público, já que a educação é a base para formar um cidadão crítico, pensante, ou deveria ser assim. Por isso a necessidade deste apoio, não só financeiro, claro que este é essencial e obrigatório para todos os cursos de graduação, mas um apoio dentro da própria universidade, para quebrar o estigma de ser um curso fraco e sem visibilidade.

Antes mesmo de ingressar no curso de Letras, já imaginava que junto com essa grande conquista viriam os comentários do tipo: "Letras é só sombra e água fresca". Pois bem, este foi a primeira frase que ouvi se referindo ao curso. Mas a pergunta que não cala em minha mente desde que entrei para assistir a primeira aula, não tendo nenhuma dúvida de que era isto mesmo que eu queria, é: o que é ser professor? Por que estamos aqui para isso, sermos professores de literatura ou linguística, que seja. Pois é isso que o curso de letras forma, professores. Ou pesquisadores, mas, em suma, são professores mesmo. 

Nada mais difícil do que ser professor nos tempos de hoje, não é "sombra e água fresca" mesmo. Será que ninguém parou pra pensar ainda que ser professor é uma extensão de ser família? Pelo menos penso assim, estamos sendo formados para formar uma dia cidadãos críticos, leitores que analisam a vida por outro olhar, o olhar que pensa. Estamos na era do conhecimento, mas conhecimento este que é pouco explorado, ou talvez usado de forma errada, a sociedade está caminhando para a alienação imposta pela mídia, pela religião, enfim, nunca se pensou tão pouco. Dentro do curso de Letras vejo o caminho para fugir desta alienação, aqui pretende-se formar leitores melhores, escritores melhores. Trabalhar com letras, com a língua que está sempre em movimento não é tão simples quanto se pensa, haja vista que daqui a alguns semestres, terminado o curso, lidaremos com a formação de novos profissionais independente da área. São vidas, lidaremos com vidas diferentes das nossas, com histórias diferentes da nossa, e este é o diferencial. Fazer-se compreender, e compreender o outro na diferença, em primeira mão digo que é esta primeira impressão que tive ao início das primeiras aulas. E tenho ainda.

Mário Quintana disse que: “livros não mudam o mundo. Livros mudam pessoas. Pessoas mudam o mundo.” Só mudaremos todo o resto se mudarmos primeiramente dentro de nós mesmo, abrindo a mente e os olhos e enxergando que o Brasil é um país com potencial para crescer, mas que sem educação de qualidade isso não funciona. Não é necessário pesquisar muito, nem ir muito longe para ver a sujeira que o país está se tornando ao investir bilhões em estruturas para a Copa do mundo enquanto o piso salarial dos professores são míseros R$ 638,00. Se não houver investimento, qualidade de trabalho e uma atenção melhor àqueles que estão ingressando nos cursos de licenciatura os índices de analfabetos funcionais só irão aumentar. Por que só se têm bons alunos quando se têm professores exemplares e qualificados. 

Isso tudo só faz com que a profissão que antigamente era de prestigio, hoje perca todo seu valor. Poucos querem ser professor por que a própria sociedade divulga essa imagem de que não vale a pena. Mas apesar dos apesares, acredito que o curso de licenciatura valia a pena sim, quando se faz por amor, não adianta entrar ás cegas isso só dificulta ainda mais a qualificação dos novos profissionais. Estar preparado para encarar os desafios o curso que você escolheu e se entregar a ele é o primeiro passo para mudar um pouco que seja o quadro de bons profissionais na área de educação. Mas a mudança principal está em "observar" melhor as carências do curso e voltar para dentro dele, principalmente aos olhos da própria universidade. 

O profissional de Letras tem um peso enorme na sociedade, devido ao vasto conhecimento que adquire enquanto se forma, porém ser professor não dá ibope. Por isso os números "catastróficos" de analfabetismo no país são desconhecidos pela maioria da população, como cita Bagno. O Brasil para, literalmente, por alguns minutos diante do telejornal e não se ouve uma "reportagenzinha" sobre a educação, sobre a real educação das escolas e das universidades. Não se fala sobre qualificação de professores, simplesmente não é importante. A educação no Brasil é precária, fato. E se falta o recurso financeiro tem-se o recurso humano, mas falta a qualificação, falta um novo currículo para os estudantes de letras que enfatize a linguística, e que ensine realmente o que um professor deve ensinar.

Enfim, ao repensar o curso de letras é preciso pensar em professores que irão formar cidadãos cientes da democracia do país em que vivemos, ou da suposta democracia que deveria existir. É preciso “letrar” os futuros professores, assim mesmo, usando o neologismo “letrar” nas proporções de alfabetizar a nível acadêmico os estudantes que a cada semestre ingressam nas universidades, primeiramente observando que o curso de Letras não é um curso simples, é uma área complexa que precisa de uma atenção minuciosa. Ainda há muito a ser discutido, pois este é um problema de grande escala que pelo andar da carruagem tende a tomar proporções ainda maiores. Analfabetos são como pessoas praticamente cegas ao mundo, não enxergar as palavras é não enxergar a vida. Alguns são diante da sociedade analfabetos, pois sabem das falhas e das rachaduras do sistema educacional e fingem que não veem. 

Ilana Benne Falcão Maia é estudante do 3º semestre do curso de Letras Vernáculas da UEFS, turma 2012.2.

Um comentário:

  1. Eh!! as suas palavras me fez refletir ainda mais sobre o nosso curso e pensando bem não existe esse negocio de sombra e água fresca, só estando nele e vivendo dia a dia é que percebemos o quanto ele pode nos proporcionar, temos consciência disso, mas, o que ele nos transmite é pouco para aquilo que vamos lidar. Enquanto os governantes gasta bilhões com a Copa, a Educação, a Saúde, a população carente não tem vez, porque! pra que, não é interessante, me dói o coração e no final de tudo para nos estudantes de letras e até de outros cursos temos que nos conformar mais não devemos é claro, com esta situação que a sociedade a qual fazemos parte está enfrentando...

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