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quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

"Memórias de um Porteiro" (Livro de Denival Matias)



* Por Danilo Cerqueira

Há mais ou menos um ano, um colega (de Letras) de escrita colocou um livro em minha mão: Memórias de um Porteiro. Esse livro apresenta a trajetória de um jovem porteiro (mas também portador) que, depois e muitos problemas de ordem social, profissional e amorosa na vida, enfrentados desde a infância, encontra uma garota e vive uma história de amor... E a confessa para nós.

Eu disse, entusiasmado com a publicação, que faria um texto para divulgar o trabalho no blog da revista (um exercício de crítica-resumo-resenha literária).

Cito algumas passagens do livro que me chamaram a atenção:


Esse mistério é tão extenso que chega à eternidade. E nós, poetas do amor, vamos permitindo que ele se apresente de várias formas nos vários indivíduos que vivem mergulhados nesse bosque florido que é o amor. (p. 24).

[...] a vida é uma mala que arrumamos dia após dia [...]. (p. 31).

- E eu vou enlatando tudo que absorvo, do nascer ao pôr do sol. (p. 75)

Enquanto elas acham isso de mim, vou tecendo minhas virtudes em meus sonhos e fico encoberto por elas. A minha história servirá de exemplo para aqueles que procuram agir com responsabilidade e amor. Neste momento a morte não faz nenhum sentido, e sonho em chegar aos oitocentos anos. A ciência se multiplicará, e descobrirá a fórmula o rejuvenescimento. Com isso regenerando e gerando todas as células do nosso corpo. Assim terei muito tempo para expressar o meu sentimento, minha alma, meu ser ignorante.
São mais de quinze anos de construção, e se estenderá à eternidade. Quando os sonhos cessarem aqui, os celestiais continuarão premiando minha alma transformada. E enquanto a eternidade não chega, vou edificando minhas palavras em versos, que por sua vez edificam uma história. (p. 76).

Por dez anos andei entre os devaneios de adolescentes, nesse caminho que eu parecia estar perdido. A poesia que foi o meu alimento quase sempre, em alguns momentos era só o que eu tinha de companhia. Ver tanto e casa instante sentir-me tão longe de viver uma história que fizesse parte de tudo aquilo. Todos passavam por mim, mas só alguns faziam parte do meu viver, que avassalava toda a minha vida. (p. 89).


Gostaria de destacar alguns pontos do romance:

* Personagem e narrador se confundem com o porteiro (ou seria portador) do(s) adolescente(s), coerente com o texto apresentado ao leitor;
* O uso do gênero carta no romance marca de maneira sensível o perfil da maioria das personagens e do porteiro, intensificando o tom confessional, marca de todo o texto;
* O bom capítulo VI, com o retrato escrito do narrador-personagem e da proposta tramada pelo texto em função da ambientação e construção das personagens.

O livro representa uma fase. Talvez seja lido apenas uma vez, mas lido e vivido (vívido, vividamente) em alguma fase da vida. A trajetória segue (e certamente escreve) talvez em pautas de uma folha de almaço (popularmente e notadamente conhecido como papel pautado), tipicamente utilizada na infância ou adolescência, na escola, tal como a principal ambientação. As aventuras descritas com puerilidade e exacerbação, entre a aspiração à técnica e a insurgência da emoção, deixam, no tempo de leitura, o tempo da adolescência, com seus momentos intensos a saborosos, com inocência e altruísmo infantis, e até piegas, mas exatamente na medida em que o conjunto do texto parece exigir para sua coerência romântica, de origem e de aprofundamento no mundo interior dos sentimentos, de seu típico alheamento da realidade externa à lógica e ao pragmatismo contemporâneos. Assim, o enfoque na origem, seja ela existencial, religiosa, espiritual, social ou sentimental, é fomentadora de um efeito de leitura que, se é fácil de ser esquecido e até criticado negativamente, pode ser reconsiderado com um despretensioso acesso às próprias lembranças.

Parabéns a Denival... Um livro que, como este texto, foi (semente e) fruto de lembranças, para ser vivido, emocionado, lembrado, pensado, escrito e lido - em ordem nunca essencial para o leitor.



*Danilo Cerqueira cursa o Mestrado em Estudos Literários na UEFS.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

(Sem Título)

* Por  Larissa Lopes L. D. de Castro

Ando pelas ruas sentindo na ponta dos pés descalços o gosto
de morte do cheiro da chuva
no ar e na terra molhada de lágrima.
Procuro o lugar o caminho a encruzilhada
por onde você seguiu. Eu sigo
seguindo as placas que não me levam a
lugar
nenhum.

Os faróis piscam com o mesmo brilho cretino nos olhos daqueles marginais, mas
eu só entro num carro se for com você e
pra te perguntar por quê,
afinal,
você me deixou aqui
sem você caminhando sozinha à beira de uma
estrada imaginária perto de
enlouquecer.

Eu fingi que não mas tenho medo do som dos passos alheios
e da falta do teu abraço em passos que não vêm mais.
Eu chamo grito corro
e me engano porque as placas na estrada não valem muito quando
não se tem para
onde
ir.

Na noite pouco se pode ver do teu sorriso que de tão bonito em nada
se parece com os sorrisos daqueles marginais.
A cabana em que você se esconde é longe demais e embora eu não tenha pressa
também não me resta forças para sequer dar um passo a mais.
Eu entro em qualquer carro que parar, parei de procurar, o sol já vai nascer
e o meu amor por você não morre,
só eu
morri e morro
todos os dias.

O sol já vai nascer pra você,
amor e
eu
trocarei amor por paz em moedas de migalhas que, eu sei,
mereço.
E você, eu sei, fez bem, você sabe, em ir embora
de mim
a tempo.

*  Larissa Lopes L. D. de Castro é graduanda em Licenciatura em Letras com Língua Inglesa na UEFS.

sábado, 14 de dezembro de 2013

O CHORO DO HOMEM-BOMBA

* Por André Ricardo Gomes dos Santos

– Grande homem...! Era o que ouvia quando saía de casa com aquela sonolência diurna. O trabalho lhe esperava, e aquele cidadão com aquele cachorro sujando toda sua calçada até tornava o escritório um bom lugar para se estar naquele dia. – Olá vizinho! Cumprimentava por educação e saía o mais rápido possível, antes que seu lado homicida falasse mais alto. No seu carro tudo parecia melhor, cheirinho de couro novo, ar gelando, até esquecia para onde estava indo. Mas essa sensação não durava quinhentos metros, o semáforo estava na cor que ninguém gosta. Lá vem esse menino remelento com suas varetas de malabarismo arranhadoras de importados, ele pensava, e o pobre operário mirim das ruas, estendia o braço mesmo sabendo que daquele engravatado nem um centavo sairia, como sempre. O farol verde dá uma esperança, e o Corolla desloca suavemente, deixando o que para ele era mais um bípede inútil para trás. Trinta minutos para chegar à multinacional, e seu automóvel começava a não ter o mesmo conforto, doutor pra lá, doutor pra cá era o que ele sabia que iria encontrar, e chingamentos e maldizeres pelas costas, é claro, pois ninguém gostava daquele carnívoro dos negócios; ou inveja, ou medo, ou raiva, ou todos juntos o que era o mais comum, e ele sabendo disso e rindo e tomando café fraternalmente com seus subalternos, como se fosse tudo um mar de rosas. E vinte minutos para o destino e o que ele vê, ou melhor, escuta, é uma ópera desafinada de buzinas, um acidente, logo a frente, pelo pouco que podia ver, era uma motocicleta, ao lado da via num local arborizado, sem o piloto e toda despedaçada. Mais um jovenzinho vendendo água mineral entre os veículos inertes, e dessa vez ele baixa o vidro, mas não para ajudar, e sim para indagar o que acontecia: – O que se passa moleque? Ele pergunta. – O caminhão passou por cima do playboy na moto, doutor! Responde o menino. – Só podiam ser esses suicidas inveterados, bem feito, menos um! Diz ele. O ambulantizinho até sai de perto, pela violência da vociferação daquele maléfico ser, o qual, o que mais desejava é que tirassem logo aquele cadáver dali, para poder seguir seu rumo. Os policiais desviam o trânsito e os pneus voltam a cumprir sua obrigação, ele já estava cinco minutos atrasado, mas ainda deu tempo de ver seu irmão morto no asfalto.

* André Ricardo Gomes dos Santos é estudante do oitavo semestre de Letras Vernáculas na UEFS.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

FANTASIAR

* Por Priscila dos Santos Trindade

Oh ideologia perspicaz
Que me acorrenta sem misericórdia
Tenho medo de me perder por ser incapaz
De recuperar, sem ti, a minha tranquilidade

Seria tu a razão de eu não tê-la
Será que achas justo tamanha crueldade?
Deitar e me afogar em desejos cruéis de sentinela
Me achar banal em sua tamanha intensidade

Devia ter me importado aquém de tanta seriedade
Porque ainda que esnobe minhas afeições
Não teria eu que me afogar aos prantos por ti
Que há eu de nem chorar a última gota
Dane-se a coerência dos sentimentos
Gozar da fantasia é amar toda esta estupidez.

* Priscila dos Santos Trindade cursa Letras com Inglês na UEFS.

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