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terça-feira, 4 de março de 2014

UMA REVISTA TAMBÉM SE FORMA... COM O GRADUANDO!

Por Danilo Cerqueira*





Fotos e cartaz da recepção aos calouros em Letras (13/04/2010)




Acho importante destacar a próxima formatura dos estudantes de Letras da Uefs. São as turmas que começaram a graduação sendo apresentadas, numa recepção  a elas, então calouros, no dia 13 de abril de 2010, ao periódico discente de Letras da Uefs. Acredito que para a Graduando também foi um começo. Ela estava sendo apresentada ao curso e, vejam só, o curso estava sendo apresentado aos agora próximos formados. Penso que seja importante escrever sobre este compartilhamento e, se possível, agregar mais valor a esse momento de vocês e dela. Imagino que, de alguma forma, ela esteja formando também.

Sabe-se, obviamente, que alguns abandonaram o curso - e também não mais aparecem nas edições da revista - nesse trajeto. É preciso lembrar deles. São pessoas que optaram por outros caminhos ou não puderam compartilhar de mais momentos dentro do curso, também não puderam conviver mais com a atuação da revista. Mas chegaram a escolher fazer Letras - ou ficar na revista -, e isso já é um motivo para que a Graduando se interesse em especial por essas pessoas. Alguns dos formandos e membros da revista certamente devem ter mais motivos para lembrar deles. Aos que continuaram - e continuarão, porque também se sabe, há dessemestralizados - deve ser  preciso agradecer por acreditarem no melhor curso que se pode contribuir para melhorá-lo. 

O curso é dos que o fazem, não vai deixar de sê-lo quando o diploma for recebido, o familiar canudo. Vai deixar de ser no papel, papel esse que agora vai servir de chave para abrir portas como documento oficial. Mas, acreditem, muitas portas foram abertas para adentrar às salas durante os anos da graduação e das outras salas para que vocês, finalmente, conquistassem uma das muitas outras chaves referente a elas. Muitos ou quase todos trabalharam durante a graduação. E lá, vocês abriram portas para outros entrarem, muitos desses que adentraram à sua abertura certamente foram seus estudantes, oficiais ou não, nas famosas aulas particulares ou bancas. A Graduando, quase nesse sentido, tentou abrir portas nesses quatro anos.

São quatro anos... encontros nem sempre prazerosos em nossa condição humana, talvez nem sempre coerentes, talvez nem sempre incoerentes, mas sempre dispostos ao oferecimento de uma continuidade às salas de aula e em outros espaços ocupados e percorridos, nos quais, certamente o conselho da revista e vocês pensaram e vivenciaram a condição de Graduando em Letras da Universidade Estadual de Feira de Santana. As vitórias cotidianas foram suficientes para a chegada deste momento. Vocês merecem e Revista também.

Um dia, um dos conselheiros do periódico discente de Letras da Uefs disse que o símbolo da Graduando parecia uma chave. Lembrei, há algum tempo, do poema de Drummond intitulado "A chave". É uma ótima ocasião para trazê-lo a uma leitura mais localizada.

PS: Não, não acho que a revista deve mudar o nome, haverá o graduando em Letras na Uefs por muito tempo. Agora, a rigor, cada um dos formandos, depois do canudo, será, vejam só, um Pós-(Graduando).

PARABÉNS à Graduando e aos Formandos!


A CHAVE
Carlos Drummond de Andrade (Corpo, 1984)

E de repente
o resumo de tudo é uma chave.
A chave de uma porta que não abre
para o interior desabitado
no solo que inexiste,
mas a chave existe.
Aperto-a duramente
para ela sentir que estou sentindo
sua força de chave.
O ferro emerge de fazenda submersa.
Que valem escrituras de transferência de domínio
se tenho nas mãos a chave-fazenda
com todos os seus bois e os seus cavalos
e suas éguas e aguadas e abantesmas?
Se tenho nas mãos barbudos proprietários oitocentistas
de que ninguém fala mais, e se falasse
era para dizer: os Antigos?
(Sorrio pensando: somos os Modernos
provisórios, a-históricos...)
Os Antigos passeiam nos meus dedos.
Eles são os meus dedos substitutos
Ou os verdadeiros?
Posso sentir o cheiro do suor dos guarda-mores,
o perfume- Paris das fazendeiras no domingo de missa.
Posso, não. Devo.
Sou devedor do meu passado,
cobrado pela chave.
Que sentido tem a água represada
no espaço onde as estacas do curral
concentram o aboio do crepúsculo?
Onde a casa vige?
Quem dissolve o existido, eternamente
existindo na chave?
O menor grão de café
derrama nesta chave o cafezal.
A porta principal, esta é que abre
sem fechadura e gesto.
Abre para o imenso.
Vai-me empurrando e revelando
o que não sei de mim e está nos Outros.
O serralheiro não sabia
o ato de criação como é potente
e na coisa criada se prolonga,
ressoante.
Escuto a voz da chave, canavial,
uva espremida, berne de bezerro,
esperança de chuva, flor de milho,
o grilo, o sapo, a madrugada, a carta,
a mudez desatada na linguagem
que só a terra fala ao fino ouvido.
E aperto, aperto-a, e de apertá-la, ela se entranha em mim. Corre nas veias.
É dentro em nós que as coisas são,
ferro em brasa – o ferro de uma chave.

* Danilo Cerqueira é formado em Letras Vernáculas e especialista em Estudos Literários, ambos pela Uefs. Atualmente cursa o Mestrado em Estudos Literários também na Uefs e é membro do Conselho Editorial da Graduando.

Um comentário:

  1. Palavras sábias, Danilo. Parabéns! O curso de Letras, não adianta tentarem desvalorizá-lo, contribui para uma formação intercultural, reflexiva, crítica, ética, plena e participativa dos docentes e discentes na sociedade.
    A Revista Graduando facilita essa formação, ajudando a formar cidadãos mais humanitários e aptos a enfrentar o mundo globalizado.

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