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segunda-feira, 5 de maio de 2014

QUANDO O SOL SE PÕE VERMELHO

* Por Rebeca Cerqueira da Silva

“Eu amadureci uns vintes anos em apenas dois.” Pensou Túlia, sentada naquele banco de praça. Um banco de concreto bastante corroído pelo tempo que, metaforicamente, poderia significar o seu coração. Túlia sentiu muita dor no tempo, pouco mais de duas décadas, que tinha vivido. Foi agredida das mais diversas formas imagináveis. Ainda tinha as marcas em seu corpo, mesmo estas sendo invisíveis. Por um tempo considerável, foi uma pessoa fechada, introspectiva, centrada em si mesma, que quase não dava espaço pra que as pessoas se relacionassem com ela. Em alguns momentos fazia do riso sua fuga. Conversava rindo das coisas mais estúpidas possíveis, fingindo-se feliz, tentando esquecer quem era, fugindo da realidade, tentando crer na mentira que criara. Até se tornar adulta nunca tinha tido um amigo de verdade, alguém que não a magoasse ou que nunca tivesse ido embora. Alguém que pudesse lhe ouvir e lhe dissesse que ia passar e que se não passasse não estaria sozinha.

Mas, Túlia sabia que não era alguém especial. Sabia que tinha muita gente como ela por aí, espalhada pelo mundo. Gente que como ela também já tinha se machucado. Gente que já tinha se ferido e causado estragos a sua volta quando buscava a cura para sua dor.

Contudo, naquela tarde quente, sentada observando o pôr do sol, ela tinha certeza de uma coisa: A vida é boa. Não que ela não ficasse triste de vez em quando. Porém, as coisas eram diferentes agora. Ela sabia que precisava crescer. E fez isso no momento certo. Precisava enfrentar seus medos sozinha. E se conscientizar que era mais forte que eles. E fez isso. E sentia-se quase feliz. Porque não era mais alguém impenetrável como aquela rocha de que era feito o banco em que descansava seu corpo inerte. Tinha se tornado mel. Tinha se transformado em amor. Porque amava. Amava o que era bom. E agora mais do que nunca sentia-se extasiada por apenas saber que havia ternura no mundo. Ternura que havia encontrado, também, nos amigos que fizera. Amigos cheios de defeitos como ela, defeitos terríveis, mas que eram característicos de todos os humanos. Defeitos de pessoas reais, que podiam amar. Túlia, em um dia qualquer, de repente se dera conta de que o amor era essencial à vida. Que sem ele nada somos. Desde então tentava pôr amor em tudo que pudesse.

Nesses momentos de reflexão Túlia esboçava um sorriso no seu rosto. Um meio sorriso que virava inteiro assim que via uma criança passar correndo atrás de um balão ou de mãos dadas com a mãe.

Quando o sol se pôs finalmente, Túlia olhou as horas em seu celular. 18:00h. Nem vira o tempo passar. Sabia que esses momentos que passava sozinha ponderando sobre as coisas eram importantes. Mas a vida estava aí. E tinha que aproveitar cada minuto. Fazendo coisas. Desejou ser feliz eternamente. Desenhou um balão na página final do livro que tinha nas mãos. Tinha adquirido recentemente essa mania deliciosa de desenhar balões. Cantou bem baixinho um trechinho de uma música... “Fala pra ele que a vida é um balão... pra cuidar do seu coração...”. Não queria que ninguém a ouvisse. Era o desafino em pessoa. Sorriu. Olhou o visor do celular novamente. 18:30. Contristou-se. Como ela deixava-se levar por seus pensamentos... Tinha que parar de ser tão redundante e não repetir tantos as coisas na sua cabeça. E não ser tão sentimental...

* Rebeca Cerqueira da Silva cursa Letras Vernáculas na Uefs.

5 comentários:

  1. Que belo texto, Rebeca. Parabéns! Quem de nós não tem um pouco de Túlia? Acho mesmo que ela é um espelho humano.
    Como é agradável ao coração humano desenhar balões. deixa-los voar pelo céu azul a se perder de vista. Nossos balões são nossa imaginação e, como é doce, de vez em quando, deixa-la voar.

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