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sexta-feira, 31 de outubro de 2014

DIÁRIO VI

* Por Danilo Cerqueira


Luzes e velas, fora!
Que custe minha vontade
A queima e o reflexo
O desvario sem interregno
Do fantasma apregoado.

Terra e tempo no passo
Invisível do som...
Leve, mas leve de vistas
E miragens de homens
Perdidos, em farpas...
Mosaicos iluminados.


* Danilo Cerqueira é licenciado em Letras Vernáculas, especialista em Estudos Literários, mestre em Estudos Literários – todas as graduações pela UEFS – e membro do conselho editorial da Graduando.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

“LOVE ME DO”

* Por Jessica Mina de Sousa


Eu acabara de sair de uma tarde enriquecedora num minicurso realizado na biblioteca Julieta Carteado quando encontrei algumas amigas, com as quais parei para tagarelar. Conhecer um pouco mais sobre Caio Fernando Abreu e identificar-me com algumas características fortes presentes em suas obras deixou-me em estado de fluxo de consciência; mesmo assim, aceitei o convite de Thaylane para tomarmos o café da noite no restaurante universitário. 

Todo aquele trajeto, corriqueiro para nós, não aparentava nada de anormal. Por isso, batíamos papo tranquilamente. De repente, apagaram-se as luzes. A reação instantânea foi de gritos e guizos. Por um minuto a fila parou, e podia-se imaginar a cara assustada das pessoas sem saber direito o que aconteceria a partir dali. Posteriormente, disseram que foi acidente feio na BR que provocou a falta de energia elétrica na Universidade, mas não faltou iluminação, e todos alimentamo-nos à luz das lanternas dos celulares.

As pessoas fizeram sua refeição ali mesmo, porém, mais próximas que o comum, pois uma coisa diferenciava aquele momento dos dias cheios no bandejão, nos quais as pessoas sentam-se bem próximas nem sempre por opção, mas por falta de outros lugares disponíveis. Hoje, o que ajuntou os seres ali presentes, foi a falta de energia elétrica e a presença de luz. Tanto que o rapaz que se sentou ao meu lado ainda disse para o colega: “Peraí, vei! Senta perto de quem tem luz!” E eu me senti iluminada, pois Thaylane portava um aparelho celular com lanterna, diferente do meu, que além de despertador serve apenas para ouvir músicas e fazer chamadas.

Foi um momento incrivelmente poético, e ao fundo, atrás das conversas batidas sobre provas, trabalhos e final de semestre, podia-se ouvir o solo maravilhoso da gaita dos Beatles em “Love me do”. O ritmo da música encheu o R.U. de uma energia transcendente que me acompanhou até em casa, para que eu não esquecesse de gravá-lo. Definitivamente, foi para mim, um dos dias mais inolvidáveis da vida universitária; e na cabeça, aquelas vozes que se repetem: “so pleaaaaaaaaaase, love me do, oh oh love me do”.

A saída de alguns estudantes pelo portão lateral aconteceu em bando, pois todo aquele aglomerado de cidadãos sente-se constantemente refém da marginalização que habita a rua Jurema e todo o conjunto de casas e prédios de aluguéis denominado Feira VI. Dobrei a esquina do meu caminho a passos largos, quase que correndo, e confesso que o temor de ser vítima, mais uma vez, passeava pela minha corrente sanguínea tão rapidamente a ponto de me fazer suar.

O alívio, ao entrar em casa e ver Talita deitada no sofá com uma vela miúda ao lado da TV minúscula, foi inspirador, motivo pelo qual fiz-me rabiscar as primeiras linhas de algo que eu ainda nem sabia o que viria a ser. Agora, sentada em frente a esse mundo que é o computador, a internet e sua imprescindível capacidade de armazenar dados limita-me a ser somente palavras, que guardadas, poderão algum dia refrescar a memória.


* Jessica Mina de Sousa é graduanda do 5° semestre do curso de Letras com Inglês na UEFS.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

ANOS SECOS

* Por Maria Rosane Vale Noronha Desidério


Queixando-se de mal estar, dona Evangelina deixou o velho corpo enrugado descansar entre as pedras do rio Puiú. E, avistou ao longe a arribada de passarinhos procurando água nas cacimbas. Tempo perdido! As cacimbas minguavam depressa debaixo daquele sol de novembro. Tudo havia minguado. O resto de água que a seca não carregou, estava protegido dessas aves, de todas as aves.

Dona Evangelina tinha essa mania de quando ia buscar água nas cacimbas do velho Puiú, deixar-se ali, meio que abandonada por si mesma para admirar o entorno. Usava esse tempo para fugir dos desesperos caseiros. Deixava-se embalar pelos pensamentos fugidios e pelo silêncio do mato. Um silêncio quebrado unicamente pela arribada de aves e pelos bichos entoando seus lamentos de sede.

Mas, ela se recordava que o sertão nem sempre foi assim. Nem sempre houve sede coletiva e compartilhada entre bichos e homens, nem sempre as plantações se perdiam, minguadas pela secura do solo ou a invasão da lagarta. Houve tempos em que o sertão era um paraíso farto e alegre. Um tempo bom em que o céu se vestia de cinza e derramava água à vontade. Era bonito ver os meninos aos pulos se banhando nas bicas ou se enlameando nas poças de água. A lua escondida e o sol intimidado admirando as nuvens carregadas. Nada podia se comparar à felicidade das chuvas, o povo colhendo feijão, milho, melancia, as mulheres e os meninos aos pés do fogão à lenha, assando espigas fornidas na brasa. Uma beleza!

Mas agora, a terra amargava três longos anos de seca, e o velho rio só possuía cacimbas de água barrenta e salobra, e o açude da vizinhança, tão grande e cheio de peixes, amargava uma morte apressada. Era triste avistar ao longe aquela imensidão de peixe morto às margens, cada vez mais encurtadas, do açude. Dona Evangelina sentia aquela tristeza arrebatar suas forças. E o sol parecia ter baixado sobre a cabeça do povo. Os sertanejos pareciam esquecidos.

Dona Evangelina estava ali, pensando nos tempos fartos, nas alegrias aos pés da trempe onde os meninos assavam milho verde. Agora as roças estavam desertas e a comida minguava. Perguntava-se diariamente porque o sertão era tão esquecido e seco. ­­­­­Era seco por gosto de Deus? Achava que não. O sertão tinha jeito, tinha sim. Faltava era o querer de quem podia fazer. O sertão era esquecido porque os homens do poder só visitavam os sertanejos em prazos de dois anos. Vinham sempre alegres, cheios de boas ideias e palavras bonitas. Dava gosto de ver. Depois se escafediam, evaporavam como fumaça. Era sempre igual. E os sertanejos minguavam ou arribavam-se para as cidades. Perdiam-se naquela imensidão. E, em sua maioria, permaneciam esquecidos. Poucos voltavam.

Dona Evangelina lamentava essa necessidade que tinham muitos sertanejos de despregar-se de seu chão e desaprender a lidar com a terra para aventurar-se em chão alheio. Aquilo era uma violência. Muitos morriam por dentro. Outros morriam de todo. Não voltavam.

Se os filhos quisessem ir embora, ela teria que deixar. Tinha medo disso, mas sentia que não tardaria a acontecer. Quase todos os filhos do sertão estavam fazendo isso — indo embora. O sertão estava secando por dentro. E o sertão era tão bonito! Mas os novatos tinham medo da seca, queriam outros caminhos, outros destinos. Se tivesse boa vontade dos homens do poder o sertão não careceria ter medo dos anos secos.  E ela não careceria ter medo de ver os filhos se enveredarem pela estrada do sul.

Agora avistava aquela arribada de aves. Logo elas iriam embora também,procurar água em outros rios. E ela voltaria para casa com o balde repleto de água salobra para encher os potes, enquanto ainda houvesse água salobra. Enquanto ainda houvesse...


* Maria Rosane Vale Noronha Desidério é aluna do 5º semestre do curso Letras Vernáculas pela Uefs.

sábado, 11 de outubro de 2014

TRAGÉDIA X COMÉDIA

* Por Pâmella Araujo da Silva Cintra


As peças de teatro, ou seja, a arte de encenar, data dos tempos da colonização. Durante o processo de catequização dos índios, os autos foram uma das maneiras encontradas de cristianizá-los, pelo interesse que a encenação lhes causava. Eis que os gêneros teatrais tragédia e comédia se destacaram bastante devido às suas características peculiares e pela forma como foram introduzidos e aceitos pela sociedade, tal como as transformações geradas de ordem religiosa, social, formação do pensamento reflexivo, e a busca pela nossa identidade nacional.

A tragédia grega caracteriza-se por ser a imitação de uma ação importante e completa que suscita compaixão e terror (medo). A compaixão significa, portanto, uma identificação, em outras palavras: a mimesis. Quanto ao terror, este apresenta-se como uma espécie de compreensão adquirida, ou seja, uma verdadeira catarse. Segundo Aristóteles, a importância da tragédia grega está na organização dos fatos, sendo fundamental a imitação de ações da vida real, da felicidade e da desventura, pois ela não é imitação de pessoas e sim, dessas realidades citadas.

O interesse que se tinha em que a sociedade grega assistisse às tragédias provém da transformação política da Grécia Antiga, que pretendia também acabar com a crença desmedida em divindades mitológicas, fazendo com que as pessoas enxergassem não mais uma única visão absoluta de mundo, e sim levar a sociedade ao questionamento, a refletir sobre as atitudes e comportamentos humanos, ora tratados como tabus pela sociedade, como coisas distantes da realidade do povo.

A tragédia consegue levar as pessoas à reflexão da problemática causada pelo conflito estabelecido, sem apresentar uma solução pronta. Ela suscita no espectador os porquês disso e daquilo, uma possível identificação com as personagens e uma procura até mesmo mais racional de explicações e soluções para a problemática tratada. Aristóteles diz que a tragédia é sem ventura, ao passo que a comédia é com ventura, o que significa dizer que não existe final feliz nas tragédias, enquanto que a comédia, assim como a grande maioria dos contos de fadas, apresenta final feliz. 

Já a comédia, caracteriza-se, segundo Aristóteles, pela exacerbação dos vícios (defeitos), ou seja, a comédia trata dessa intensificação dos defeitos. Trabalha com a reordenação/renovação, com a coletividade, com o social. Ao contrário da tragédia cujos personagens principais são sempre os heróis, na comédia estes são vistos como os anti-heróis. A comédia traz uma proposta de superação, não sendo algo só para rir. Até porque, a ironia pode estar associada à crítica, a quebra da lógica é o que gera o riso. A graça está na compreensão nova daquele contexto.

As relações sociais que são as relações de poder, assim como os tipos sociais, são os focos das peças teatrais cômicas. A comédia tem como objetivo retratar a sociedade tal como ela é, com os seus sujeitos, seu modo de falar... No Brasil, sem sombra de dúvida, a força da literatura brasileira está no cômico. A comédia proporcionou ao teatro brasileiro uma desvinculação dos moldes europeus. Com isso, percebe-se que, com a comédia, há uma busca pela identidade nacional do nosso país, até então, os nossos palcos retratavam realidades que não eram nossas, como também a linguagem utilizada.

Fica a pergunta: Por que o teatro brasileiro desenvolveu mais a veia cômica do que as tragédias? A resposta pode estar no fato da comédia causar uma identificação maior no público. Ora, a comédia era mais fiel à realidade do nosso país, havia uma linguagem compreensível, porque era o nosso modo de falar que era utilizado, personagens tinham características próprias do povo brasileiro, os costumes eram nossos, como também os obstáculos esperados. Os tipos sociais demonstravam bem traços da personalidade brasileira, ao mesmo tempo que denunciava as discrepâncias de igualdade e de justiça do nosso país.

Embora a comicidade tenha se desenvolvido e se destacado mais que a tragicidade, ambas tiveram muita importância pelas transformações geradas. O teatro se destacou muito com esses dois gêneros que serviram como instrumento de reflexão e de aprendizagem ao discutirem questões como o ser humano, suas atitudes e comportamentos. Foi uma forma de fazer as pessoas repensarem a sociedade como um todo. Assim como a literatura nunca é apenas literatura, devemos ter em mente que o teatro e a ideia que temos dele hoje é bem diferente do que foi o teatro e suas propostas. O teatro de outrora, era mais que teatro, tinha embasamento filosófico, educador, político e causas. Em síntese, a tragédia e a comédia conseguiram ganhar os palcos e o povo brasileiro.


* Pâmella Araujo da Silva Cintra é graduanda em Letras Vernáculas, 5º semestre, UEFS.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM

* Por Pâmella Araujo da Silva Cintra


O processo de aquisição da linguagem gira em torno da questão de Platão: Como podemos saber tanto a partir de tão pouco? Ou seja, como pode o ser humano intuir que tal sentença não pertence a sua língua só com o conhecimento dos dados primários? Chomsky e a tradição racionalista defendem a existência de um dispositivo inato biologicamente determinado, conhecido como Gramática Universal (GU). Trata-se, portanto, do estágio inicial do processo de aquisição.

A concepção defendida pela tradição racionalista pressupõe que adquirir uma língua particular é mais uma questão de maturação e de desenvolvimento do tal órgão mental biológico e menos uma questão de aprendizagem. O Behaviorismo defende que os dados primários, ou seja, o meio ambiente linguístico ao qual a criança é exposta, sejam suficientes para explicar o sistema de conhecimentos final do indivíduo adulto.

Entretanto, apesar da tradição racionalista não negar a importância do meio para iniciar o funcionamento da aquisição da linguagem, ela desconsidera que os dados primários deem conta de determinar as propriedades finais atingidas pelo sistema gramatical.

Em outras palavras, os estímulos iniciais da criança são pobres. Devendo-se, então, admitir a existência da GU na mente humana como um mecanismo inato suficientemente complexo, capaz de explicar e de determinar a aquisição e o desenvolvimento da linguagem.

Assim, podemos considerar que a GU é a nossa língua interna (Língua – I), constituída por princípios e parâmetros, e a performance, o uso concreto da linguagem (Língua – E). Contudo, entende-se que o dispositivo inato e o meio linguístico são os responsáveis pelo processo de aquisição da linguagem.


* Pâmella Araujo da Silva Cintra é graduanda em Letras Vernáculas do 5º semestre

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