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sexta-feira, 24 de outubro de 2014

“LOVE ME DO”

* Por Jessica Mina de Sousa


Eu acabara de sair de uma tarde enriquecedora num minicurso realizado na biblioteca Julieta Carteado quando encontrei algumas amigas, com as quais parei para tagarelar. Conhecer um pouco mais sobre Caio Fernando Abreu e identificar-me com algumas características fortes presentes em suas obras deixou-me em estado de fluxo de consciência; mesmo assim, aceitei o convite de Thaylane para tomarmos o café da noite no restaurante universitário. 

Todo aquele trajeto, corriqueiro para nós, não aparentava nada de anormal. Por isso, batíamos papo tranquilamente. De repente, apagaram-se as luzes. A reação instantânea foi de gritos e guizos. Por um minuto a fila parou, e podia-se imaginar a cara assustada das pessoas sem saber direito o que aconteceria a partir dali. Posteriormente, disseram que foi acidente feio na BR que provocou a falta de energia elétrica na Universidade, mas não faltou iluminação, e todos alimentamo-nos à luz das lanternas dos celulares.

As pessoas fizeram sua refeição ali mesmo, porém, mais próximas que o comum, pois uma coisa diferenciava aquele momento dos dias cheios no bandejão, nos quais as pessoas sentam-se bem próximas nem sempre por opção, mas por falta de outros lugares disponíveis. Hoje, o que ajuntou os seres ali presentes, foi a falta de energia elétrica e a presença de luz. Tanto que o rapaz que se sentou ao meu lado ainda disse para o colega: “Peraí, vei! Senta perto de quem tem luz!” E eu me senti iluminada, pois Thaylane portava um aparelho celular com lanterna, diferente do meu, que além de despertador serve apenas para ouvir músicas e fazer chamadas.

Foi um momento incrivelmente poético, e ao fundo, atrás das conversas batidas sobre provas, trabalhos e final de semestre, podia-se ouvir o solo maravilhoso da gaita dos Beatles em “Love me do”. O ritmo da música encheu o R.U. de uma energia transcendente que me acompanhou até em casa, para que eu não esquecesse de gravá-lo. Definitivamente, foi para mim, um dos dias mais inolvidáveis da vida universitária; e na cabeça, aquelas vozes que se repetem: “so pleaaaaaaaaaase, love me do, oh oh love me do”.

A saída de alguns estudantes pelo portão lateral aconteceu em bando, pois todo aquele aglomerado de cidadãos sente-se constantemente refém da marginalização que habita a rua Jurema e todo o conjunto de casas e prédios de aluguéis denominado Feira VI. Dobrei a esquina do meu caminho a passos largos, quase que correndo, e confesso que o temor de ser vítima, mais uma vez, passeava pela minha corrente sanguínea tão rapidamente a ponto de me fazer suar.

O alívio, ao entrar em casa e ver Talita deitada no sofá com uma vela miúda ao lado da TV minúscula, foi inspirador, motivo pelo qual fiz-me rabiscar as primeiras linhas de algo que eu ainda nem sabia o que viria a ser. Agora, sentada em frente a esse mundo que é o computador, a internet e sua imprescindível capacidade de armazenar dados limita-me a ser somente palavras, que guardadas, poderão algum dia refrescar a memória.


* Jessica Mina de Sousa é graduanda do 5° semestre do curso de Letras com Inglês na UEFS.

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