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quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

IDENTIDADE X PROCESSO DE COLONIZAÇÃO

Por Pâmella Araujo da Silva Cintra*


Durante o período conhecido como Romantismo, movimento que significou também uma busca da auto-afirmação da questão identitária dos países e não só, como se pensa, o individualismo, podemos perceber que esse período literário é marcado pela forte ideia de expressão do nacionalismo e na preocupação em instituir uma consciência nacional; estabelecer uma tradição literária calcada na origem da história de cada país como forma de criar uma identidade.

Entretanto, na América Latina, e em particular e principalmente no Brasil, os desdobramentos na criação de sua própria identidade se tornaram paradoxais e difíceis pelo fato dos países da América terem sido colônias dos países europeus. Contudo, isso significa que a América possui um atraso “intelectual” frente à Europa, por ter estabelecido literatura tardiamente. No caso do Brasil é ainda mais complicado, uma vez que ele, mesmo depois de ter conseguido sua independência, manteve com a metrópole colonizadora uma relação de cordialidade e até de submissão, o que explica um pouco esse complexo de inferioridade existente em nós brasileiros.

Vale ressaltar que, mesmo independentes, continuamos dependentes de Portugal após o período de colonização. E mais, a colonização de Portugal se diferenciou da espanhola, sofrida nos demais países latinos, por conta do apagamento cultural e imposição da cultura do país colonizador. Esse processo foi tão eficaz que resultou no fato de países como o Brasil não ter “memória” preexistente ao período de colonização. Isso dificulta, e muito, que países como o Brasil consigam constituir uma identidade, já que sabemos que não somos europeus, nem índios. O que somos, então? É esse o dilema em que se encontram os intelectuais, já que não temos resposta. Ou seja, o Brasil não possui uma identidade “acabada”, ainda nos encontramos em processo de formação.

Uma dificuldade sentida pelos nossos poetas e intelectuais durante o Romantismo foi justamente essa falta da história do nosso país. Eles, ao contrário dos escritores europeus, não tinham uma história, uma pátria. Por isso, encontraram-se na missão de criar a nossa pátria, ao mesmo tempo em que criavam uma literatura de cunho nacionalista sobre a mesma. De fato, os europeus não tiveram dificuldade quanto a isso porque já tinham uma tradição, uma história, uma origem a ser narrada.

Outro fato curioso é que tudo que é feito por nós, latinos, é sob e para o olhar da Europa, o que alimenta ainda mais a questão de nos sentirmos inferiores, já que o que verdadeiramente pretendemos com nossa literatura é que ela seja bem vista aos olhos dos outros; dos europeus. Vivemos então essa crise, o EU e o OUTRO. A literatura brasileira sofreu e ainda sofre muito com isso, no sentido de que, na tentativa de sustentarmos a criação de uma possível identidade, rejeitamos as influências daqueles que foram nossos opressores, os portugueses. Aí está o paradoxo: como negar a influência de Portugal para o Brasil se essa é uma parte de nós, da nossa quem sabe “legítima constituição”?

Não obstante, nós americanos nos enxergamos como bárbaros, e enxergamos a Europa como a civilizada. O Brasil rejeitou os modelos literários portugueses, mas adotou, por exemplo, o modelo de romantismo dos franceses. E, considera a França como o berço da civilização. Só nos enxergamos como donos de um país de natureza extravagante e exuberante porque o OUTRO nos enxerga assim. Afinal, até a visão que se tem do Brasil não é nossa, e sim do outro. E mais, somos vistos apenas como paraíso pela nossa bela fauna, flora, natureza em geral. Mas, quando falamos em civilização, cultura produção literária, somos rebaixados. Somos selvagens aos olhos do OUTRO e “incapazes” de exercer qualquer tipo de intelectualidade.

Assim, é de se imaginar que os nossos escritores, preocupados em criar uma pátria, pouco se importaram na elaboração de uma estética, e mais com os conteúdos tratados. Para Antônio Candido, a literatura brasileira é uma ramificação da literatura portuguesa. É vista como filha da portuguesa, e que por ser “nova”, deve atingir a “maturidade” da “velha”. Contudo, o que se pode observar é que a ideia de nacionalismo e de identidade brasileira não é algo fácil, e não podemos dizer que está acabada. Encontra-se em formação e em crise por conta de tantos paradoxos.


* Pâmella Araujo da Silva Cintra é graduanda do 5º semestre do curso de Letras Vernáculas da UEFS.

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