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segunda-feira, 23 de outubro de 2017

DO LEITOR AO NAVEGADOR: A RECEPÇÃO LITERÁRIA E AS REDES SOCIAIS

Abinalio Ubiratan da Cruz Subrinho*


Ao longo dos séculos,a concepção de leitor e os espaços destinados a esse para realização da prática de leitura, bem como a sua relevância no meio literário, foi se modificando. O leitor deixou de estar à margem do processo de leitura, enquanto agente que recebia de forma passiva a exposição do texto, para assumir-se sujeito com uma função ativa. Tal processo não ocorreu de modo abrupto, foi uma construção paulatina, que acompanhou os avanços históricos decorrentes das mudanças socioculturais, que por sua vez permitiram que fossem desenvolvidos métodos que concedessem ao leitor mais autonomia frente aos processos de análise e produção de textos.

Um dos estudos que contribuíram para a construção de um novo olhar sobre o leitor pode ser constatado na corrente literária da Estética da Recepção. A princípio trazida a público no dia 13 de abril de 1967, na conferência “O que é e com que fim se estuda a história da Literatura” proferida por Hans Robert Jauss, na Universidade de Constança, e posteriormente com a publicação do livro A História da Literatura Como Provocação à Teoria Literária (1994). Desde então, a teoria passa a ser conhecida pela crítica literária ocidental, ocasionando mudanças significativas na historiografia da literatura. Com a teoria da Estética da Recepção, Jauss propõe sete teses sobre a recepção e seu efeito, questionando os métodos até então utilizados para análise de uma obra literária. Segundo defende em sua teoria, para Jauss “ambos os métodos, o formalista e o marxista, ignoram o leitor em seu papel genuíno, imprescindível tanto para o conhecimento estético quanto para o histórico: o papel do destinatário a quem, primordialmente, a obra literária visa”. (JAUSS 1994, p. 23). Desse modo, o autor buscou evidenciar que não se pode realizar o estudo de uma obra literária sem levar em consideração o modo como o leitor a recepciona.

Outro fator não menos importante para compreender essa maior abertura para a expressão do leitor são as mudanças ocorridas nos suportes, dito de outro modo, nos espaços destinados para realização da leitura. Sendo assim, conforme destaca Roger Chartier (2002) as formas que possibilitam a escrita e a leitura de um determinado texto,corroboram de modo profundo para construção de significados do texto por seu leitor. Da tabuleta ao rolo, do rolo ao códice, deste ao livro, e do livro impresso a todas as fórmulas textuais online, pode-se verificar a confirmação da teoria de Chartier, isto é, cada suporte diferenciado irá estabelecer o modo pelo qual o sujeito leitor se relacionará com o que autor propõe no texto, consequentemente, também na forma de recepcioná-lo.

Nessa perspectiva, a comprovação de que as superfícies em que os textos se planificam influenciam diretamente nos modos de se conceber a leitura e realizar inferências torna-se perceptível nos ambientes online e mais especificamente nas redes sociais da internet. A partir da recepção da leitura nestes espaços, o leitor passou a desenvolver uma recepção mais ativa, pois o próprio fluxo da rede exige que o internauta/leitor seja mais dinâmico e imediato na comunicação.

Portanto Blogs, Microblogging, Chats, Fanpages, Fanfics, Programas de Editoração de audiovisuais nas Redes Sociais, todas estas ferramentas estão sendo utilizadas para veiculação da leitura literária. Esse novo modo de hospedar e falar de literatura ganha cada vez mais adeptos nas redes sociais, questão essa que é passível de diversos estudos, sobretudo, o de como o leitor recepciona a literatura nas redes e conseguinte quais as contribuições dessas redes para a formação do leitor literário.

Referências

CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. Trad. Reginaldo Carmello Corrêa de Moraes. São Paulo: Editora Unesp, 1998.

CHARTIER, Roger. Os desafios da escrita. Trad. Fluvia Moretto. São Paulo: UNESP, 2002.

JAUSS, Hans Robert. A história da literatura como provocação à teoria literária. Tradução de Sérgio Tellaroli. São Paulo: Ática, 1994.

* Abinalio Ubiratan da Cruz Subrinho é Licenciado em Letras Língua Portuguesa e Literaturas (UNEB), Especialista em Estudos Literários (UCAM), Mestrando em Educação e Diversidade – MPED/UNEB. Coordenador Pedagógico – Secretaria Municipal de Educação – Serrolândia -BA.

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