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segunda-feira, 13 de novembro de 2017

2017.1: A(S) FORMATURA(S) EM LETRAS NA UEFS

Por Danilo Cerqueira*


Hoje fui para a mais uma formatura de Letras da UEFS. Sim, assim mesmo, a mais uma. E isso significa que foi uma cerimônia de formatura singular, além de, claro, única. Grandemente significativa. Cheguei atrasado, e isso, de certa forma, também já a transforma, para meu olhar, em incomum. Para surpresa talvez de muitos dos muitos em excesso presentes no espaço, formavam as quatro licenciaturas do curso de Letras da UEFS. Isso também torna a formatura bastante especial por alguns pontos de vista.

Em meio às dificuldades institucionais do(s) contexto(s) estadual(is) e nacional(is), provavelmente essa configuração de formatura, tradicionalmente articulada em duas, apresentou-se num cerimonial de colação de grau único. Único, em certo sentido, também é o curso que representa: os graduandos, agora licenciados, vivenciaram mais uma experiência/consciência de grupo, fundamental em sua formação acadêmica e social. Ela se estenderá dos atuais aos futuros grupos, escolares ou de quaisquer atividades, e se confirmará na formação coletiva e representativa de uma profissão, do exercício inegável de ser cidadão, de ser com o outro. Tal condição e situação são compartilhadas — sentidas positiva ou negativamente, pensadas ou não pensadas — por muitos iguais nesta condição, que precisam de companhia para crescer e suportar a sucessão dos dias e das experiências boas e ruins, do que se vive e sobre o que se aprende no viver. Eu estive na referida formatura, vi e pensei, senti e por isso estou escrevendo, por isso creio e, em parte, estou vendo novamente, por meio deste texto.

Dentre as coisas que me chamaram a atenção, em meio ao grandíssimo número de pessoas e de formandos do dia, foi que, dentre os homenageados da turma, estava a pessoa que, dentre atividades cotidianas de seu trabalho, providencia a fotocópia de material didático das disciplinas do curso, a conhecida xerox. Surpresa a minha saber que se estava homenageando justamente a trabalhadora ligada ao curso de Letras, em bela homenagem. Esse acontecimento, em relação aos materiais de estudo parcialmente fotocopiados para estudo no curso, deixou-me a ideia bastante substantivada de que presenciava algo novo. “As coisas estão mudando”, comentei comigo (não contive o pensamento) e com outros depois que saí do Auditório Central da UEFS. O espaço, definitivamente, se concordei algum dia com os que lhe atribuíam o adjetivo de elefante branco, jamais será lembrado por mim como tal a partir hoje.

Ouvi, conquistado pelas palavras, um discurso de formatura em Literatura de Cordel. Lindo, bem lido, bem escrito, bem emocionante! UEFS, governo, cotidiano, perfis, relações e relacionamentos foram postos à prova e ao crivo de letras, palavras e frases que pareciam espelhadas, nas quais formandos e formados se refletiam, com autocrítica e autolouvor, personificados no elogio do Magnífico Formado (licença para a neológica forma de tratamento). Espero um dia ter o cordel novamente para lê-lo ou ouvi-lo, pois as palavras soam atuais e universais, falando da realidade dos formados a partir das gerações de formandos que os precederam (e dos que virão também), da qual tantos de seus conhecidos e até amigos fazem parte. As palavras do cordel provocaram, junto com os demais acontecimentos da cerimônia, uma conjugação de sentidos e articulações de perspectivas históricas e representativas, actanciais e repletas de uma esperança que entusiasmava o público, mesmo com o número enorme de pessoas que estava em pé, relativamente cansados, e ouvindo impropérios por estar à frente de outras pessoas, como eu.

Ah, público. Decorrente das quatro graduações, juntas nunca ou raramente em uma formatura, tal contingente de pessoas, de cidades e perfis diversos, como é típico (histórico) do curso, mostrou-se de uma variabilidade exótica e, até certo ponto, divertida. Exacerbações e excessos em gestos e sons, acenos e comentários, fizeram-se presentes, sentidos e, claro, comentados. Alguns despropósitos que, contextualizados e compreensíveis, nada mais eram do que a expressão verdadeira de um grupo em visita, rara ou primeira, a um lugar desejado por seus ou suas parentes, num misto de felicidade e satisfação, ou até, por motivações outras e por que não, também de estranhamento.

Creio que a representação de um curso, com todas as suas nuances e características quanto à repercussão de suas ações passadas, presentes e futuras na sociedade, pôde ter seu ápice de compreensão em eventos como esse. Não me lembro de uma cerimônia reunindo tantas graduações na referida universidade (4). Isso, também creio e proponho para pensar, aumenta a ideia de uma resposta para as perguntas “Quem somos?”, “De onde /Do que faço parte”, “Quem eu represento?”, “Quem me representa?”, “O que se vê sobre o que faço?”. Todas as perguntas elencadas aqui, e tantas outras que o leitor pode ter incluído ao lê-las, podem ajudar a melhorar a autopercepção de nossa realidade, a mais próxima possível, para que, a partir dela, possamos reafirmar nossos laços sempre construídos, em muitos casos sofridos, mas necessários e sempre imprevisíveis em momentos cada vez mais únicos em nossos dias de vida.

Eu estive lá, e confesso: não pensei tudo isso apenas lá. Pensei e penso um pouco assim todos os dias. Assim ideias se formam e se confirmam de acordo com a experiência de vida, e se completam a cada momento, com leituras, escutas, observações, vivências em que estamos com todos os sentidos, com a nossa disposição para sentir e pensar mais ou menos. O processo formativo de outras pessoas fazer de parte de nossa vida é intrínseco, indissociável ao exercício docente da licenciatura, mas também o é, em parte, do bacharelado, da docência sem contracheque, da discência sem diploma, do aprender, do viver. Tudo isso faz parte da formação do ser e do saber em nós, que nunca termina, que nunca se interrompe... continua sempre no outro, como certa reciprocidade em forma de palavra, leitura e escuta.


* Danilo Cerqueira é licenciado em Letras, além de especialista e mestre em Estudos Literários, todas as graduações pela UEFS; é professor da rede estadual de educação da Bahia; também é membro do conselho editorial da revista Graduando: entre o ser e o saber.

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