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terça-feira, 7 de novembro de 2017

ESCRITOS DE UMA PSICÓLOGA

Por Manuele Souza Costa*


Ainda sento no mesmo lugar onde sentávamos para falar sobre poesia, para sorrir lembrando aspectos da vida. Onde eu admirava seu sorriso enquanto você falava da beleza dos textos e inteligência dos escritores como algo mágico, com entusiasmo. Onde sugerimos um ao outro várias leituras, as quais faríamos o mais rápido possível só pra ter assunto para o próximo encontro e quando sentávamos para discutir esses e outros assuntos não víamos a hora passar, tão rapidamente entardecia, e parar ali era algo meio forçado para a gente. Poderíamos até demorar um pouco para se encontrar, mas quando acontecia era intenso, como sempre. A nossa amizade era assim, intensa, verdadeira, atenciosa. Era tão bom repartir pensamentos, concordar, discutir sobre cada tema.

Estou aqui. Já li todos os contos e ouvi todas as músicas recomendadas por você, só para ter assunto para a próxima conversa, que já há algum tempo não acontece mais. O amor também afasta, distancia as pessoas, mesmo estando tão juntas, próximas. Esta é a ideia que tenho desde que os corpos estão sempre perto, mas a alma, o essencial está distante, querendo fugir. Talvez porque o amor antes existente não era notado e agora sim, no entanto não é aceito, o que causa mudança, o afastamento.

Preferia que tudo voltasse a ser como era antes. Para mim, o ápice do amor estava ali, entre os dois, sentido e vivido por ambos, quando faziam um ao outro sorrir com entusiasmo, beleza e queriam sempre estar ali, perto um do outro. Para mim, isso representa o amor, essa vontade de sempre estar junto, e o ápice desse sentimento não é como muitos pensam, que são beijos e abraços, mas são sorrisos, admirações, confidências, confiança, vontade de sempre estar.

Hoje, não sento mais naquele lugar e o sinto cada vez mais longe, mesmo estando ao meu lado. O olhar parece querer correr, está sempre fugindo, demonstra medo. O sorriso já não é tão verdadeiro, mas continua belo. Às vezes nem me encara. Será mesmo que não aceita o sentimento ou isso tudo é medo? Parece tremer quando está ao meu lado. Decidi assumir minha impotência, não posso forçá- lo a sentir. Vou seguir me afastando.

Num domingo à tarde, sentada na poltrona da sala sozinha, sem ninguém nem seus pais, com todas as janelas fechadas, sem chorar nem sorrir ela diz: “Ali, aquela situação é o ápice do amor, é o momento que ela o sente mais forte, pois pensa, o deseja e escreve.”


Relato da última cliente, dia 27 de maio de 2017, às 17:00 horas. Segunda seção com a psicóloga Elisa Nascimento.


* Manuele Souza Costa cursa Especialização em Estudos Literários na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS).

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